Esta obra trata a violência associada à utilização de armas de fogo, em particular, as de pequeno calibre. A grande disseminação e facilidade de acesso a este tipo de armas fora de contextos de guerra transporta a violência para novos espaços. Nestes, as armas de fogo irão adotar outros sentidos que aqui serão objeto de reflexão.
Portugal encontra-se estabelecido no imaginário coletivo como um país de brandos costumes. Porém, esta é uma noção irreconciliável com as ondas de pânico pontuais suscitadas pelas diversas ocorrências de violência armada em solo nacional, particularmente em contextos suburbanos. Assim, sucedem-se alternâncias dicotómicas entre uma desvalorização do fenómeno e uma histeria massificada que hiperboliza e mediatiza o número de casos de violência armada em solo nacional. Sendo que nenhuma destas posições pode oferecer resposta aos desafios colocados, a presente obra pretende encetar uma análise que recorra a critérios claros para a reafirmação e o devido conhecimento desta realidade, resistindo à sua redução ao espetacular.
Assumindo que a acessibilidade das armas de fogo não é a causa que propulsiona a violência, mas sim um potencial catalisador da sua ocorrência, é urgente o diagnóstico rigoroso não só das estatísticas do universo português de armas legais e ilegais, assim como das disposições legais, representações culturais e implicações económicas e sociais que lhe estão subjacentes. Será a partir das respostas a essa investigação que se poderão identificar as opções mais viáveis para a prevenção e minimização da violência armada em Portugal.